Dinâmica no Setor de Serviços de Saúde – Desafios e Oportunidades de Investimento em hospitais e clínicas de pequeno e médio portes
Agosto de 2018
Introdução
O setor de saúde apresenta peculiaridades que o tornam muito especial na atenção do mercado investidor.
Inicialmente por envolver questões éticas relacionadas com a saúde e a vida tornando as decisões de investimento/ compra/ consumo pouco sensíveis ao custo dos bens, medicamentos e serviços. Mas também por apresentar uma estrutura de financiamento que visa a diluição de custos através de um processo atuarial em que um grupo de vidas financia o tratamento/ cura daqueles que efetivamente se tornem pacientes e passem a demandar produtos e serviços. Este processo separa os agentes que decidem pelo consumo – prestadores de serviços / médicos / pacientes – daqueles que financiam o processo – vidas / fontes pagadoras. Uma receita para o descontrole e crescimento dos custos / demanda por recursos no setor.
Assim, o setor de serviços de saúde tem se tornado um dos mais atrativos para investidores institucionais no Brasil. Em contexto de redução de taxas de juros no mercado local, a busca por alternativas de rentabilização do capital tem atraído a atenção de fundos de private equity locais e no seu rastro instituições internacionais
PORQUE O SETOR DE SERVIÇOS DE SAÚDE?
Os fundamentos para este interesse são claros:
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Crescimento de demanda significativo e riscos limitados
- O setor tende a ser imune a ciclos econômicos e crises de mercado uma vez que a demanda não depende da atividade econômica
- Além disso a tendência de longevidade da população com expansão da vida na terceira idade, a fase quando o uso de serviços de saúde se intensifica, garante uma expansão natural da demanda significativa
- Adicionalmente, serviços de saúde tendem a envolver temas éticos sobre a preservação da vida humana, ganhando preferência na alocação de recursos das pessoas e empresas
- A competição pelo lado do setor público altamente fragilizada sem capacidade de atender à demanda com um mínimo de eficiência e resolutibilidade
- Neste contexto, ainda que a crise tenha gerado desemprego e consequentemente redução de número de vidas cobertas na saúde suplementar, há tendência de que cada vez mais serviços de saúde vão ocupar maior share of pocket do consumidor e das empresas – gerando soluções do tipo planos de saúde com franquia ou co-participação
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Setor fragmentado e carente de gestão profissionalizada
- Apesar de um processo de consolidação no setor já estar em andamento há mais de uma década, este tem se concentrado em clínicas de diagnóstico e ainda existe muito a ser percorrido em um país de dimensões continentais e com distintos níveis de desenvolvimento do setor em termos empresariais e organizacionais
- De acordo com a Federação Brasileira de Hospitais e o Conselho Nacional de Saúde existem hoje no Brasil quase 4,4 mil hospitais privados com cerca de 264 mil leitos – incluindo leitos dedicados atendimento SUS. Em média são hospitais de cerca de 60 leitos – pequenos – sendo que quase 60% não têm nem 50 leitos
- Em geral estes hospitais são gerenciados por entidades relativamente pouco profissionalizadas e com limitado acesso a práticas gerenciais de ponta – mais de 40% não são para fins lucrativos
- Deste total de 4,4 mil hospitais cerca de 1,4 mil foram criados depois de 2010, período no qual cerca de 1,8 mil foram fechados – indicando o grau de dificuldade desta estrutura fragmentada na gestão hospitalar
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Alto nível de oportunidades de agregação de valor através da digitalização
normes benefícios para a operação de serviços de saúde – desde Além de todas as tecnologias que deverão trazer benefícios fundamentais na área científica como -Internet das coisas; Impressão 3D; Robótica; Realidade aumentada; Blockchain; Realidade virtual
- Pode se destacar a inteligência artificial baseada em análise massiva de dados – big data – como ferramenta de grande impacto na melhoria da eficiência/ resolutividade na prestação de serviços hospitalares – analise de dados históricos pode indicar com precisão a previsão de tempo a ser consumido em um determinado procedimento para um tipo de paciente, ou tempo de internação para uma determinada patologia em um perfil de doente, e assim melhorar a gestão de utilização dos ativos do hospital assim como no controle de custos que neste setor são explosivos, indicando os consumos padrão por procedimento e perfil de paciente como base para negociação de “ pacotes “ com operadoras reduzindo o risco do prestador (hospital) e evitando o sistema fee for services indutor do aumento de custos.
COMO INVESTIDORES SELECIONAM SEUS ALVOS?
Investidores institucionais - Fundos de private equity tanto locais quanto internacionais tendem a buscar ativos mais consolidados e de maior porte – rede de clínicas, laboratórios e hospitais, em função do perfil de alvos viáveis para estas instituições:
- Alto potencial de crescimento – em geral consolidando outros players do mercado
- Oportunidades de criação de valor – através de ganhos de escala, investimentos em tecnologia viabilizados com recursos do aporte
- Operação absolutamente regularizada sob ponto de vista fiscal, trabalhista, ambiental etc..
- Estrutura de governança preparada para conviver com acionista profissional - demonstrações financeiras auditadas
- Potencial para abertura de capital
- Investimentos realizados preferencialmente através de aporte financeiro na empresa/ hospital/ clinicas – vis a vis pagamento a acionistas
- Participação objetivada em geral minoritária porem significativa, visando manter a gestão dos especialistas no setor, mas participar da administração aportando expertise financeiro e a possibilidade de trazer oportunidades relacionadas com outros ativos parte de sua carteira de investimentos
Com estes requisitos a tendência é direcionar investimentos para empresas de porte médio/ grande de forma que com número discreto de empresas/ ativos/ participações, o fundo possa cumprir suas metas de alocação de capital.
Exemplos destes investimentos estão nos casos BTG Pactual Rede D’Or, seguido por investimentos do fundo norte- americano Carlyle; o caso United Health e AMIL ou Advent com Grupo Fleury.
E HOSPITAIS E CLÍNICAS DE PORTE MÉDIO / PEQUENO MONOSITES?
Hospitais e clínicas monosites – não consolidados – são alvo frequente de investidores estratégicos – outros hospitais / clínicas maiores ou redes buscando consolidar suas posições para competir ou se tornarem alvos do institucionais.
A consolidação estratégica busca não somente gerar porte maior na empresa prestadora de serviços de saúde mas também o fortalecimento estratégico e competitivo do negócio e a criação de valor. Entre estes aspectos de fortalecimento competitivos estão:
- Alavancagem da escala para obter melhores negociações com fornecedores de materiais, serviços e equipamentos
- Racionalização da operação com foco de diferentes unidades em diferentes especialidades visando ganhos de eficiência
- Economia de escala em funções administrativas e de apoio – recursos humanos, contabilidade, suprimentos etc..
- Transferência de melhores práticas de gestão de uma unidade para outra
- Capacidade de investimento em tecnologia/ digitalização da gestão
Estes fatores estiveram por presentes no processo de consolidação de clínicas de diagnóstico por imagem e laboratórios de análises clinicas promovidos pelo DASA – Delbony Auriemo, Grupo Fleury e consolidação de Hospitais promovida pela AMIL e Rede D’Or. Mais recentemente o foco tem se voltado para outras áreas entre as quais clínicas oftalmológicas e estabelecimentos focados em pessoas da terceira idade.
No entanto, hospitais e clínicas de médio porte nem sempre se encontram preparados para dialogar neste processo – equipe gestora reduzida e focada no dia a dia; falta de experiência em processos corporativos como fusões e aquisições; estrutura de governança inadequada para estabelecimento de alianças / associações entre outros são fatores que inibem a realização das oportunidades existentes.
Estas organizações carecem claramente de apoio externo profissional para trazer uma reflexão estratégica e conhecimento do mercado para promover sua preparação e estruturação visando habilitar a organização para sair do estágio monosite e se inserir no processo de consolidação e profissionalização do setor.
Conclusão
O setor de saúde no que se refere às oportunidades de negócio demonstra força e jovialidade – por um lado grande porte (quase 10% do PIB) e crescimento à prova de crises e ciclos econômicos por outro imaturidade proporcionando inúmeras oportunidades de ganhos de eficiência e criação de valor, especialmente através do uso da tecnologia/ digitalização, análise de dados e inteligência artificial.
O trabalho conjunto e inteligente dos gestores do setor com apoio externo de consultores com vivência e criatividade capazes de trazer inovação e melhores práticas tem potencial para gerar muito sucesso traduzido em melhoria dos serviços prestados, racionalização dos recursos alocados e portanto criação de valor para todos os setores envolvidos – pacientes, médicos, fontes pagadoras, vidas seguradas, e os profissionais e empresas da área. E assim completando a resposta às demandas do mercado financeiro ávido por oportunidades para rentabilização do capital disponível.